Conflitos no Oriente Médio
Professor Bruno Segatto apresenta um panorama sobre os conflitos que atingem a região do Oriente Médio
Você deve ter visto que o Oriente Médio tem sido palco de um grave conflito armado e de inúmeros atentados nos últimos meses. No entanto, talvez seja difícil conhecer os atores e os interesses envolvidos nestas disputas geopolíticas. Neste texto, o blog do Ceisc vai te ajudar a entender quem são esses atores e de que modo o conflito em Gaza vem se tornando um conflito regional de considerável relevância.
Hamas e Israel: uma nova onda de conflito
Israel e o Hamas, que controla a Faixa de Gaza, se enfrentam na região há anos. Aqui no Blog do Ceisc já há um texto falando sobre as origens históricas do conflito que se arrasta na região. O fato é que o Hamas não aceita o Estado de Israel e fez contra ele o maior ataque de sua história no dia 7 de outubro. Cerca de 1200 israelenses foram mortos e outros 200 feito prisioneiros.
Nos meses seguintes, Israel desencadeou uma ofensiva por terra, mar e ar contra a Faixa de Gaza. Os bombardeios massivos e indiscriminados destruíram boa parte da estrutura da região e deixaram um saldo de mais de 30 mil mortos, muitos dos quais mulheres e crianças. Embora tenha sido muito criticado pela comunidade internacional pela desproporcionalidade da resposta militar, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, justificou estas ações com base no direito de autodefesa. Para Israel, a destruição do Hamas é uma condição para a própria existência e segurança do país.
No decorrer dos meses, a população de Gaza se dirigiu para o sul, na cidade de Rafah, que faz fronteira com o Egito. Foi pela passagem de Rafah, entre Faixa de Gaza e Egito, que dezenas de brasileiros palestinos foram resgatados pelo Governo Federal. O Brasil, aliás, esteve entre os países mais críticos a Israel na América Latina, junto com o presidente a Colômbia de Gustavo Petro.
Ao mesmo tempo em que os ataques militares ocorrem na Faixa de Gaza, na Cisjordânia houve um aumento das hostilidades entre palestinos e israelenses. Cabe destacar que o território da Cisjordânia não é governado pelo Hamas, mas sim pelo Fatah. O Fatah exerce a Autoridade Nacional Palestina, que tem na figura de Mahmoud Abbas a sua liderança. Diferentemente do Hamas, o Fatah aceita o Estado de Israel.
Houthis no Iêmen: o Irã e a “guerra por procuração”
Favorável à causa palestina, o grupo radical Houthis, que atua no Iêmen, começou a atacar embarcações que passavam pelo estreito de Bab-el-Mandeb em direção ao Canal de Suez. Várias embarcações que se dirigiam a Israel foram atacadas naquela passagem estratégica. A situação se tornou tão crítica que países como Estados Unidos e Reino Unido chegaram a bombardear posições dos Houthis no Iêmen com o propósito de restabelecer a livre circulação de embarcações pelo mar Vermelho.
Os Houthis são uma milícia xiita apoiada pelo Irã que luta contra o governo sunita do Iêmen. Cabe lembrar que os muçulmanos são divididos entre esses dois grupos: os sunitas são moderados e a maioria, já os xiitas correspondem a uma minoria mais radical. Como o Irã prefere evitar um enfrentamento direto com Israel, o país faz um tipo de “guerra por procuração” contra o governo de Tel Aviv. Aliás, não é somente esse grupo que recebe apoio financeiro e material do governo de Teerã.
Hezbollah no Líbano: novamente o Irã
No Líbano, vizinho de Israel ao norte, o Irã apoia o Hezbollah, outro grupo radical que defende o fim do Estado de Israel. Por estar próximo de Israel, o Hezbollah envia mísseis para o território israelense, assim como o Hamas fez no dia 7 de outubro a partir da Faixa de Gaza. Boa parte destes projéteis foram abatidos pelo Iron Dome (“Dama de Ferro”), o sofisticado sistema antimísseis de Israel.
Importante destacar que o Hezbollah não age em nome do governo libanês. O Líbano vive uma grave crise socioeconômica e política agravada pela explosão de uma carga de nitrato de amônio no porto de Beirute, em 2020. Ou seja, mesmo sendo crítico a Israel, tudo o que o governo de Beirute não quer neste momento é um conflito com o vizinho do sul.
Apesar disso, Israel revidou aos ataques do Hezbollah e realizou bombardeios no Líbano. No sul do Líbano, os militares israelenses têm lançado bombas com fósforo branco, o que é condenado pelas leis internacionais. Além disso, Israel também atingiu um edifício na capital libanesa por meio de um drone. Este ataque resultou na morte de um dos líderes do Hamas.
Irã, Israel e a Síria como palco
Recentemente, um consulado do Irã em Damasco, capital da Síria, foi atingido por um míssil israelense. O ataque resultou na morte de um comandante da Guarda Revolucionária do Irã, Mohammad Reza Zahedi. De acordo com a lei internacional, um ataque a um consulado ou embaixada corresponde a uma agressão ao próprio território do país. Embora o governo de Israel não tenha reconhecido o ataque, o mesmo não refutou a autoria.
Em reação, o governo de Teerã coordenou um ataque ao território israelense. Centenas de mísseis e drones foram enviados de seu território e de territórios controlados por grupos aliados em direção a Israel. Quase todos os projéteis, no entanto, foram abatidos pelo sistema antiaéreo de Israel ou por aviões de países aliados de Israel, como Estados Unidos e Reino Unido.
Israel revidou o ataque do Irã atingindo uma base no país inimigo. No entanto, o Irã demonstrou que não tem intenções de dar continuidade às hostilidades. O país vive um período de instabilidade econômica devido às sanções comerciais impostas pela comunidade internacional como punição pelo desenvolvimento de seu programa nuclear.
Impasse no Conselho de Segurança e protestos nos Estados Unidos
Desde que os ataques de Israel na Faixa de Gaza começaram a atingir a cifra das 20 mil pessoas, milhares de pessoas tomaram as ruas em várias cidades para exigir por um cessar-fogo. Nas últimas semanas, milhares de estudantes têm realizado protestos e acampamentos em universidades dos Estados Unidos. Eles condenam o financiamento estadunidense ao governo de Tel Aviv e o fornecimento de armas ao país. Muitos destes estudantes foram presos pela polícia.
A pressão das ruas, no entanto, até o momento não foi suficiente para convencer os membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Várias propostas de cessar-fogo, inclusive uma do Brasil, foram recusadas por membros do colegiado, principalmente pelos Estados Unidos. Mesmo quando o Conselho de Segurança aprovou medidas contra o conflito, o governo de Israel disse que não acataria a resolução. Cabe lembrar que o próprio Estado de Israel foi criado por meio de uma Resolução da ONU. Diante de tantas divergências, o Oriente Médio continuará sendo palco de conflitos entre os vários atores locais, pouco propensos ao diálogo e à negociação.
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