Enchente histórica assola o RS e suspende concursos públicos
Professor Bruno Segatto analisa o cenário das enchentes que atingiram o RS nas últimas semanas.
Nas últimas semanas, o Rio Grande do Sul tem recebido a atenção diária de veículos de comunicação nacionais e internacionais. A maior enchente da sua história atingiu 450 cidades, deixou 600 mil pessoas desabrigadas e, até o momento, vitimou mais de 150 pessoas. Diante do cenário devastador, o Governo Federal decidiu pela suspensão de concursos públicos, como o CNU. Confira no texto abaixo quais foram as causas deste fenômeno e as consequências que ele deixará para as economias do estado e do Brasil.
Um castigo de São Pedro?
No século XVII, os portugueses começaram a explorar o território que atualmente corresponde ao Rio Grande do Sul, embora pertencesse à Espanha. Ao adentrar nas águas da Laguna dos Patos, os exploradores acreditaram que aquele conjunto de água se tratava de um grande rio. Assim, em 1760, a região foi nomeada Capitania do Rio Grande de São Pedro. O santo escolhido não podia ser outro: o detentor das chaves que abrem as “portas do céu” teria também o poder de controlar as águas que dele caem sobre os mortais.
No século XIX, o nome foi alterado com a independência do Brasil: a Capitania portuguesa deu lugar à Província de São Pedro do Rio Grande do Sul. Apesar das mudanças políticas, o rio e o santo permaneceram na designação daquele território rico em cursos fluviais. Em 1889, a República foi proclamada e a laicidade do Estado instituída. No novo cenário, o santo foi removido do nome do Estado do Rio Grande do Sul.
Alguns poderiam dizer, portanto, que as cheias atuais seriam um castigo de São Pedro. Superstições à parte, o fato é que os rios foram cruciais para o povoamento e o desenvolvimento econômico do Rio Grande do Sul. As três grandes bacias hidrográficas (do Litoral, do Uruguai e do Guaíba) reúnem um conjunto expressivo de rios, os quais deságuam no rio/lago Guaíba, às margens da capital Porto Alegre.
Guaíba: a grande “calha” das águas de São Pedro
Devido ao relevo, vários rios gaúchos nascem em áreas mais elevadas e descem até a Laguna dos Patos, passando pelo Guaíba. Os rios dos Sinos, Caí, Taquari, Pardo e Jacuí deságuam no Guaíba, que funcionaria como uma grande “calha” dos rios gaúchos. Logo, quando ocorrem chuvas em excesso nas áreas onde se encontram esses rios, o acúmulo de água acaba descendo junto em direção a Porto Alegre. Em 2023, alguns destes rios já haviam tido enchentes e inundado cidades como Muçum, Roca Sales e Encantado.
Neste ano, no entanto, as chuvas excessivas atingiram tanto as áreas do interior quanto a capital dos gaúchos. Uma massa de ar quente, localizada na região Sudeste, impediu que esta massa de ar úmida se dissipasse pela região Sul do Brasil. O resultado foi os elevados índices pluviométricos em uma única região por vários dias seguidos. O fenômeno climático extremo vivido pelo estado gaúcho comprova o que cientistas já alertavam: estamos vivendo as consequências do aquecimento global.
Sem a devida manutenção, os diques, os muros e as casas de bombeamento que deveriam proteger a capital apresentaram falhas. O sistema de contenção desenvolvido durante os anos 60 e 70 se revelou defasado diante do cenário atual. A inundação das casas de bombas forçou o desligamento do fornecimento de energia elétrica, deixando parte dos porto-alegrenses no escuro por dias. Para piorar, os ventos vindos do Sul dificultam o escoamento das águas do Guaíba em direção ao Oceano Atlântico.
Consequências econômicas que nem São Pedro estima
A ausência (ou insuficiência) de medidas de proteção ambiental ou de prevenção de catástrofes, somada com a chuvarada, deixou um preço elevado a ser pago. Além das centenas de vidas perdidas, as enchentes deixaram um legado de prejuízos até o momento difícil de calcular. Cidades e fazendas ficaram debaixo da água. Lojas e residências perderam suas mercadorias e mobiliários Até mesmo o aeroporto, que conectava Porto Alegre com o mundo, ficou inundado.
O governador Eduardo Leite afirmou que o esforço para reconstruir o estado significará um “Plano Marshall”, em alusão à reconstrução da Europa ocidental pós-Guerra. Balanços iniciais preveem que tal tarefa implicará em cerca de R$100 bilhões.
Embora não se conheça a cifra exata que terá esta reconstrução, sabe-se que ela será lenta, pois todos os índices econômicos do estado apresentarão queda. Haverá queda da produção de todos os setores: o primário, atingido pela inundação das plantações e a morte dos animais; o secundário, pela falta de matéria-prima ou a paralisação de atividades; e o terciário, afetado pela interrupção do comércio nas cidades atingidas. Por ser um estado importante no setor agropecuário nacional, as quedas produtivas podem implicar em aumento de preços de alimentos, sobretudo de arroz. Para impedir este aumento, o Governo Federal autorizou a importação do item.
O pujante setor do turismo, na Serra Gaúcha, será duramente atingido pelo fechamento do aeroporto Salgado Filho e os bloqueios em rodovias, estes causados por deslizamentos de terras e quedas de pontes. Além disso tudo, o Rio Grande do Sul perderá em atratividade, pois empresas podem transferir suas sedes para outros estados onde fiquem menos vulneráveis a eventos desta natureza. Logisticamente, o Rio Grande do Sul pode deixar de ser atrativo e perder empregos.
Custe o que custar, a tarefa que se impõe agora aos gaúchos é a da reconstrução, mas sem perder de vista que muito precisará ser feito em termos de prevenção. Só assim os gaúchos estarão menos vulneráveis às águas enviadas por São Pedro.
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