O processo de pacificação da Colômbia – Parte II
Nesta segunda parte sobre o processo de pacificação da Colômbia, um panorama atual do país sul-americano e as perspectivas de futuro no país.
Após meio século de conflitos internos e algumas tentativas de estabelecer acordos de paz, em 2016 o governo colombiano selou um compromisso com as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). Para muitos cidadãos do país caribenho, aquela era a oportunidade de pôr fim a uma guerra que já havia vitimado cerca de 90 mil pessoas e causado o deslocamento de outras 1 milhão. Esta cifra alarmante coloca a Colômbia como o país com o maior número de refugiados internos do mundo.
No entanto, o acordo promovido pelo então presidente Juan Manuel Santos foi recusado um plebiscito ocorrido no mesmo ano: 50,2% votaram contra, enquanto 49,8% foram favoráveis. Mesmo com a oposição de parte relevante da sociedade, o então presidente levou o acordo adiante com algumas modificações ele foi ratificado pelo Congresso do país. Diante do esforço empreendido por Santos na luta pela pacificação, o ex presidente Juan Manuel Santos foi agraciado com o Prêmio Nobel da Paz de 2016. Passados sete anos do acordo, o processo de pacificação do país avançou com a deposição das armas por parte das FARC. Porém, o acordo de paz ainda enfrenta muita resistência na sociedade e na política colombianas.
Motivos para o NO
Cabe assinalar que a grande maioria dos colombianos não é contrária à paz, mas sim ao conteúdo do acordo assinado em 2016. Muitos cidadãos consideram que o acordo foi demasiado brando para com aqueles que perpetraram crimes durante os anos de conflito, pois concede anistia e oferece auxílios governamentais para facilitar a reinserção de ex guerrilheiros na vida em sociedade. Cabe salientar que o atual presidente colombiano, Gustavo Petro, integrou o grupo M19, uma guerrilha urbana que depôs as armas já em 1991.
A posição contrária ao acordo foi mais forte em regiões que foram duramente atingidas pela violência das guerrilhas nas últimas décadas. Em cidades como Medellín, sequestros, assassinados e atentados a bomba eram rotina nos anos 1980 e 1990. Mesmo com o desmantelamento dos outrora poderosos cartéis de Cali e Medellín, a violência não diminuiu. A dissolução dos cartéis gerou uma diluição de grupos criminosos de menor envergadura. Assim sendo, para muitos colombianos o acordo de paz deveria ser mais duro em relação aos ex guerrilheiros e outras medidas também deveriam ser adotadas para que a paz de fato seja uma realidade no país.
Só a paz não basta
Apesar das divergências entre os colombianos, existe um relativo consenso entre eles de que somente a paz não será suficiente para que o país abandone seu passado de violência. Além da dissolução do Exército de Libertação Nacional (ELN), ainda em atividade no país, para muitos cidadãos também é necessário que as pessoas que foram deslocadas de suas terras de forma forçada possam retomar as suas propriedades. Para muitos, esta demanda só poderia ser concretizada por meio de uma reforma agrária. Esta proposta, porém, enfrenta a resistência do poderoso setor primário do país.
Além de assinar o acordo e se comprometer a cumprir o que prometeu para os grupos que abandonam as armas, o governo colombiano também precisa se preocupar em melhorar as condições de vida de sua população, principalmente nas regiões mais periféricas do país. No caso colombiano, a paz não será alcançada somente com o papel e a caneta. Ela depende também de serviços públicos mais eficientes, uma justiça mais célere e mais oportunidades de emprego e renda.
Para os mais céticos em relação ao acordo de paz, o fim da violência só seria possível quando o comércio ilegal de cocaína para os Estados Unidos terminasse. No entanto, esta crença é bastante utópica, uma vez que a demanda pela droga não tem diminuído nos últimos anos. Mais que isso: grupos criminosos ligados aos poderosos cartéis narcotraficantes do México teriam sido responsáveis pela morte do candidato à presidência do Equador, Francisco Villavicencio. Ou seja, os grupos que atuam no tráfico de drogas têm se fortalecido nos últimos anos.
Seja como for, Estado, ex guerrilheiros, para-militares e sociedade colombiana precisarão estabelecer negociações maduras se almejam alcançar a paz: todos terão de ceder em algum aspecto. Que assim seja e a paz possa deixar de ser uma utopia. De utopia e imaginação já basta o realismo mágico de Gabriel Garcia Marques.
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