O que você precisa saber sobre o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) na sua preparação para o exame da OAB
Não estou conseguindo me concentrar para estudar, será que é TDAH?
O TDAH se tornou um dos diagnósticos mais presentes na cultura midiática nas últimas décadas. Os efeitos decorrentes da popularização dessa psicopatologia foram diversos e, por vezes, antagônicos: se, por um lado, democratizou-se o acesso ao conhecimento sobre um efeito nocivo às exigências da rotina moderna, informação que antes era consideravelmente restrita ao campo da psiquiatria; por outro lado, gerou uma grande onda de diagnósticos distribuídos de forma banal e, consequentemente, ineficaz.
Frente a tal cenário, o mercado cultural se organizou de forma a criar e vender alternativas "rápidas e mágicas" para tais efeitos, individualizando a responsabilidade ao sujeito de ser o solucionador de suas dificuldades, desconsiderando possíveis problemas estruturais, que poderiam interferir de forma determinante na manifestação do sintoma que se acredita ser causado por um TDAH. Dito isso, quando se propõe a dialogar sobre o TDAH, é necessário ater-se a principais pontos como sua definição, o histórico de sua descoberta, e, por fim, sugestões de estratégias para aqueles que são diagnosticados com tal condição neurológica.
O que é TDAH e como ocorre o diagnóstico
O TDAH é definido como uma condição do neurodesenvolvimento, ou seja, do processo do completo desenvolvimento do sistema nervoso, desde a infância até a vida adulta, envolvendo a formação, conexão e organização de neurônios. O transtorno, portanto, acomete o desenvolvimento de funções cerebrais complexas, e é caracterizado por uma tríade de sintomas envolvendo desatenção, hiperatividade e impulsividade em grau disfuncional para a idade, ocasionando em sofrimento subjetivo. Os sintomas iniciam-se na infância do indivíduo, podendo persistir ao longo de toda a vida, dividindo o perfil em três subtipos: os predominantemente desatentos; os predominantemente hiperativos; e o subtipo combinado (desatento e hiperativo).
Para obtenção de um seguro e qualificado diagnóstico de TDAH, estima-se que hoje os recursos mais acurados para mensurar a presença (ou não) da psicopatologia na estrutura neurológica de uma pessoa, são baseados em relatos clínicos (através de consultas com psicólogos e/ou psiquiatras), além do uso de testes psicométricos que avaliarão a dimensão dos sintomas presentes. Ressalta-se, ainda, a importância da construção de uma perspectiva multidisciplinar sobre a investigação e tratamento de condições como esta, visto que estratégias isoladas (somente medicação, ou somente psicoterapia, por exemplo) podem não gerar efeitos suficientes para balizar os possíveis problemas causados pelo diagnóstico, a depender das condições subjetivas e de recursos disponíveis para cada sujeito. Neste sentido, pode-se considerar que o TDAH é influenciado por diversos fatores, incluindo componentes genéticos, ambientais e neurobiológicos, e afeta diretamente a região cerebral que nomeia-se como córtex pré-frontal, região competente por desenvolver as funções executivas, que são: atenção, memória de trabalho, planejamento, inibição e flexibilidade cognitiva.
Diante da concepção das possíveis causas e sintomas associados ao quadro do TDAH, somado ao que se encontra na literatura à respeito do transtorno, considera-se que pessoas acometidas pela condição tenham potenciais prejuízos associados à aprendizagem. O processo de desenvolvimento intelectual (condicionado pelas funções executivas, por sua vez atravessadas pelo transtorno) acaba sendo prejudicado, em consideração ao fato que a estrutura neurológica, por vezes, é incompatível com o calendário das cobranças acadêmicas e profissionais. Neste sentido, considera-se, também, que há margem para sofrimento subjetivo em decorrência deste descompasso que pessoas com TDAH enfrentam.
O histórico e a tendência à generalização do TDAH
O TDAH, conforme aponta a literatura científica, no passado era considerado tão somente como um transtorno associado à infância. Porém, a partir da década de 90, passou-se a estudar o fenômeno de forma mais ampla, levando em consideração também adultos que se queixavam de sintomas semelhantes ao quadro diagnóstico. Tamanho foi o impacto de tal fenômeno social, que na mesma década popularizou-se em larga escala o conhecimento sobre o transtorno, além de ser publicado pela primeira vez em um dos principais manuais diagnósticos até hoje existentes (na época DSM - IV) a conceitualização do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade como um transtorno psiquiátrico reconhecido.
Não obstante, a concepção político-econômica da época sobre o transtorno levou-o a ser considerado como um dos maiores problemas de saúde dos Estados Unidos da América, ocasionando em um boom de diagnósticos e produção farmacológica para tratamento associado à condição. A expectativa era de amplificar a capacidade de performance das pessoas, e consequentemente gerar maior margem de lucro a partir da indústria farmacêutica e do maior desempenho pessoal dos sujeitos no mercado de trabalho. Neste sentido, compreende-se que o TDAH passou a ser visto como fator de risco, e não tão somente como uma neurodivergência.
Até hoje, conforme mencionado na introdução deste post, ainda vemos concepções distorcidas sobre o TDAH nas mídias, especialmente em redes sociais mais frequentadas, colocando o transtorno no lugar de defeito, de suposto simples processo de diagnóstico, e que deva ser corrigido. Entretanto, crê-se que as reflexões construídas até aqui sobre o TDAH não buscam tratá-lo como algo questionável de sua existência, nem muito menos corrigi-lo de forma imperativa e sufocante, mas sim estimular o debate responsável sobre essa condição do neurodesenvolvimento, e oferecer estratégias alternativas e eficazes para balizar seus sintomas.
Estratégias para manejo do quadro
O manejo do quadro de TDAH envolve uma variada gama de recursos a serem investidos. Entre eles, de forma genérica, podemos citar modificações na rotina, nos pensamentos, nos comportamentos, além de intervenções psicoterapêuticas e farmacológicas. Em relação às duas últimas citadas, recomenda-se que, antes de recorrer a elas, se busque tentar aplicar as seguintes sugestões de estratégias, que potencialmente por si só sejam suficientes para lidar com os obstáculos no processo de estudos para o exame da ordem. Jamais deve-se se automedicar na falta de um acompanhamento médico contínuo para tratamento. Entre as estratégias sugeridas, podemos citar:
A criação de uma rotina estruturada, clara e previsível
Tal ferramenta pode potencializar a organização e gestão do tempo de estudos paralelo à dinâmica da rotina de trabalho, descanso, lazer e outros afazeres. Neste sentido, recomenda-se a criação de um cronograma visual, para melhor orientação, com atividades e horários mais fixos possíveis para o tempo de preparação para o exame da OAB.
O uso da técnica de estudo Pomodoro
Este recurso consiste na fragmentação de um extenso período de estudo em vários blocos menores, alternados com momentos de descanso. Neste sentido, podemos distribuir, por exemplo, cada bloco de estudos em 25 minutos, paralelos a 5 a 10 minutos de descanso. Desta forma, memoriza-se o conteúdo de forma mais eficaz, equilibrada, e podemos mensurar o esgotamento durante o processo.
Criar metas reais
Estabelecer metas reais pode ser uma ferramenta muito potente para o processo de estudos, visto que, a depender de quais objetivos estabelecermos, podemos nos motivar mais ainda (quando percebemos que estamos os contemplando com eficácia), ou nos desmotivar (quando percebemos que não estamos atingindo-os). Neste sentido, pode ser proveitoso fragmentar também as metas em menores pedaços, de forma a abrir margem para realizarmos o reconhecimento dos nossos esforços de maneira mais ponderada e satisfatória.
Treino de memória
Uma das principais funções executivas a serem testadas no momento de prova é a memória, e portanto devemos buscar exercitá-la durante o processo de estudos. Tal exercício pode ser realizado entre um bloco de estudos e outro, consistindo na tentativa de recitar (para si ou para alguma companhia) todo conteúdo que se lembra à respeito do que foi estudado anteriormente, sem consultas, e posteriormente consultando para verificar se as citações estavam corretas. O uso de post-its, bem como outros marcadores de destaque (flashcards, por exemplo) podem facilitar o exercício da memória.
Livre-se das distrações
Conforme nos propomos a estudar, devemos canalizar uma grande quantidade de energia e atenção para a atividade. Neste sentido, distanciar-se de potenciais distratores pode ser uma potente ferramenta no momento de estudos. Para tanto, busque manter distratores como celular, barulhos e outros objetos não fundamentais para o estudo afastados. Desta forma, o aparato neurológico terá melhores condições de concentrar a atenção na intenção e ação de estudar.
Por fim, considera-se que as estratégias sugeridas também podem ser utilizadas por alunos que não têm TDAH. E aos alunos que têm um diagnóstico sólido e seguro de TDAH, as estratégias de estudo têm de levar em consideração um planejamento organizacional de forma relativamente mais rígida, com estudos diários fragmentados, que inspirem autoeficácia ao serem superados, mas também em momentos de descanso para recuperação do cérebro frente aos esforços empenhados na preparação para o exame da OAB.
Lembre-se: os diagnósticos não são sentenças. Podemos aprender a conviver com eles de forma estratégica e pacífica, através da autorresponsabilização e mudanças em nossa vida.
Abraços, Vitor Mueller
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